Atrasos no pagamento de salários e benefícios estão pondo em xeque o
atendimento de órgãos do governo do estado. Segundo denúncias de
trabalhadores de setores vitais, como segurança, informática e limpeza,
a empresa Prol, antiga Facility — responsável pela terceirização desses
funcionários — não tem cumprido suas obrigações trabalhistas. Por isso,
empregados da prestadora de serviços paralisaram dez postos do Detran-RJ,
de sábado até segunda-feira passada. Somente no fim de semana, dois mil
motoristas do Rio ficaram sem atendimento. Esse foi mais um capítulo da
turbulenta parceria entre a Prol e o estado.
Um levantamento feito nos registros de licitações do governo mostra que há 57
contratos em vigor em nome da Facility, com 19 órgãos estaduais, totalizando a
verba de R$ 5,1 bilhões. A empresa informa ter cerca de 20 mil funcionários,
mas não especifica quantos deles trabalham para o poder público. Somente no
Detran-RJ, são 3.462, segundo o próprio órgão, atuando nos setores de habilitação,
identificação civil e registro de veículos. Os 14 contratos em vigor só no
Departamento Estadual de Trânsito custam R$ 1,1 bilhão.
— A Prol marcou uma reunião, mas ninguém apareceu ou enviou comunicado.
Eles só dizem que enfrentam problemas financeiros — reclamou o presidente do
Sindicato dos Trabalhadores em Asseio, Conservação e Limpeza, Romero Duarte,
que foi à empresa, na quarta-feira passada, cobrar o pagamento de funcionários
da área de serviços gerais.
A auxiliar administrativa Patrícia Lima, de 36 anos, diz que os atrasos são contantes:
— O vale-transporte sempre chega atrasado. Muitas vezes, nem recebi tudo.
Inventavam até faltas para descontar no contracheque.
Na mão de estrangeiros
Procurada, a Prol não deu detalhes sobre os contratos em vigor nem comentou
as denúncias feitas por funcionários, informando apenas que está passando por
uma reestruturação, e que os salários atrasados já foram depositados.
Pouco se sabe sobre a gestão da empresa, apenas que, no início do ano, ainda
sob o nome Facility, foi vendida a um fundo estrangeiro de investimentos, pelo
empresário Arthur Cesar de Menezes Soares. Ele chegou a ser alvo de denúncias
do Ministério Público (MP) estadual, por suspeitas de fraudes em licitações.
Na época da venda, os comentários no mercado eram de que a transação seria o
ponto de partida para a formação de um grupo de prestadoras de serviços com
faturamento de R$ 2,2 bilhões por ano. Os funcionários temem o futuro:
— Atrasam os salários, não depositam o FGTS nem pagam o adicional
de insalubridade,
apesar de eu trabalhar num hospital. É uma falta de respeito.
Nossas contas não esperam — contou uma funcionária da Prol, que
preferiu não se identificar.
OS FATOS: PROBLEMA CONSTANTE
Trabalhadores
Entre os órgãos que têm terceirizados da Prol estão as secretarias de
Educação, Segurança e Saúde, a Polícia Civil, o Degase, a Empresa de
Obras Públicas, a Universidade da Zona Oeste e a Faetec.
Parlamentares
Na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), o atraso nos salários dos
terceirizados em serviços como limpeza e cozinha chegou ao plenário na
semana passada, quando deputados discutiram medidas a serem tomadas
contra a Prol.
Medidas
O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) também estuda uma punição à Prol,
para que a empresa regularize o pagamento dos 17 vigilantes que atuam por
lá. No Instituto Vital Brazil, houve uma notificação pela falta de depósito de
salários para 200 profissionais que trabalham nas Farmácias Populares do estado.
Falhas no Detran-RJ
No Detran-RJ, a situação dos terceirizados foi regularizada, por enquanto.
Ontem, porém, problemas no sistema, causados por uma falha técnica da
Oi, fizeram o órgão ampliar o atendimento, entre os dias 25 e 29 de agosto,
até as 23h, em alguns postos.
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